quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Entrevista com Sávio Roz e Daniel César, da revista Ozadia



Inspirado nos catecismos eróticos de Carlos Zéfiro, a coletânea Ozadia traz HQs eróticas/pornográficas feita por quadrinistas baianos. Ozadia traz cinco histórias em sua edição número 0: “Especimen”, de Ricardo Cidade e Alex Lins; “A partir de 5″, de Bruno Marcello; “Sucumbir”, de Leonardo Maciel e Neto Robatto; “Descaradagens na Bahia Colonial”, de Sávio Roz e por último a “3 real”, de Dan Cesar. O lançamento oficial do trabalho é no início de outubro e poderá ser comprado pelo Facebook. A proposta é bem original levando em conta o atual mercado de HQs do Brasil hoje (há poucas publicações de gêneros específicos). Torcemos para uma vida longa para a revista. 

Entrevistamos Sávio Roz e Daniel César, da revista Ozadia, neste último FIQ, segue a transcrição da entrevista:  

Entrevistador: Gostaria de saber um pouco de sua estória.
Savio RozEu fazia uma graduação de História na Bahia... Acompanhei um livro de Laura de Mello (O Diabo e a Terra de Santa Cruz: feitiçaria e religiosidade popular no Brasil colonial, 1986... uma estória em uma coletânea de uma mulher, uma esposa de um comerciante que a inquisição começa a perguntar a ela sobre um monte de coisas, aquelas perguntas que a Santa Inquisição fazia...    

Entrevistador: Isso (referindo-se à revista HQ) é (parte de) uma coletânea?   

Savio Roz: Sim, é uma coletânea... aí... a revista em quadrinho é essa que você está com ela na mão agora...   

Entrevistador: Todo mundo é de Salvador...?! Todo mundo é de lá?  

Savio Roz: Todo mundo é de Salvador... 
Nós juntamos, montamos, brincamos e colocamos essa ideia em prática...    

Entrevistador:  Todas são propriedades eróticas?   

Savio Roz: Todas eróticas...(!)   
Entrevistador: Vocês já pensaram em fazer propriedade coletiva, fazendo uma revista em quadrinhos toda erótica (?) Eu nunca vi um catalogo... (!)  
Savio Roz: Já rolou... Já fizemos um catalogo... Só que para isso precisava de tempo... A gente ganhou espaço apresentando... parar para poder procurar... 
Todo mundo falou assim: “vamos sangrar a obra...”; Inclusive a publicação até tinha mais uma estória, só que ocorreu é que um membro disse “eu não posso participar da grana...”; e a gente (disse)...: “não, não você participa depois a gente..."; (O membro citado interrompe): “não, não, moralmente eu não posso...”; 
E (daí) a gente não tinha como por, e (aí) a gente retirou (a tal parte)... agora a gente já está planejando a próxima edição... outros autores... 
Entrevistador:  E tem o contato positivo (com os autores)  

Savio Roz: Sim... temos contato com todos os autores separadamente, mas... (!)
  
Entrevistador:  E vocês publicam na internet... (?!)  

Savio Roz: Publicamos também...
    
Daniel César: Estamos vendo se botamos ele online daqui a algum tempo...   

Savio Roz: Aguarde a última estória... (!)   
 ...

Entrevistador: Como é a luta do dia-a-dia para vcs na inserção do mercado para poder publicar e conseguir compradores?  

Savio Roz: Quando montamos a revista, refletimos sobre o mercado e coisas básicas, como público alvo e mecanismos de divulgação. Entretanto, a medida que a publicação foi ficando pronta e logo seu lançamento em loja especializada, percebemos que o público era mais extenso e de gênero diferente do inicialmente pensado. Mulheres entre 20 e 30 anos são nossas principais audiências. Como quadrinho erótico, percebemos que o mundo do entretenimento dos quadrinhos, dessa específica indústria cultural, ainda está carregado de tabus. Tivemos lojas amigas que nos aceitaram sem pestanejar, o que foi muito bom, já que foram as saídas mais generosas da publicação. Mas muitos estabelecimentos ficaram receosos, tanto da certeza de venda do produto quanto de sua qualidade. Meses depois de seu lançamento, com uma somatória mais que confortável de vendas, ficaremos mais seguros em comprovar qualidade para futuros parceiros. Diariamente estamos falando e comentando a revista, oferecendo elas como amigos ofereceriam e não vendedores chatos. O que é mais a cara da equipe: Um grupo de amigos desenhando, escrevendo e publicando quadrinhos divertidos e eróticos. Sabemos que trata-se de um produto e isso exige todo um projeto publicitário e de vendas, mas jamais deixamos que isso afete a amistosidade que já temos com um público...
    
Entrevistador:  Vocês são os nossos homenageados independentes (vcs, no nosso trabalho, estão ao lado do Millazzo, grande cartonista e clássico na Europa, como vc deve conhecer). Seria algo do tipo: nichos de produção local versus grandes editoras corporativistas que visam mais o lucro em detrimento do puro fazer-artístico, que é o que pessoas como vcs fazem. Outra coisa é que no Vídeo também gravamos vcs e o Millazzo: minha idéia é colocar lado a lado os dois lados da moeda no mundo editorial (artistas e produtores culturais como vcs, versus, grandes empreendedores do mundo editorial).
Mais uma vez um grande obrigado, amigo.
  
Savio Roz: Claro! Fica a vontade!  E muito bom estar ao lado do Milazzo! Mas lembre-se que o editor de Milazzo aqui é o mesmo editor da Ozadia! Então são dois produtos de pesos diferentes sendo acreditados (e respeitados) pelo mesmo editor! 

Entrevistador:  Até é bom ouvir a opinião de vcs, mas tentei somente descrever a realidade, inclusive até estou mencionando que o co-criador do ken Parker é um dos mais cults quadrinistas do mundo, que inspirou o personagem dele e do Giancarlo Berardi no Jeremiah Johnson de 1972, do gênero faroeste, que teve Robert Redford como estrela. 

Savio Roz: O chamado "Faroeste Macarrônico". 

Entrevistador:  Pode ser mais uma citação! 

Savio Roz: Bem, ansioso pra ver esse trabalho! 

Entrevistador: Ok!  

Savio Roz: Vamos postar na fan page da Ozadia. Já estamos aqui projetando a próxima (!)




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