Entrevista com o Prof. Dr. Gazy Andraus, doutor pela USP, sobre os processos de cognição através da Leitura de HQs...
No mais, Gazy Andraus é conectado ao grupo Quadro-a-Quadro.
(quadro-a-quadro.blog.br)
A Quadro-a-Quadro edita os quadrinhos do grupo Ozadia... sim!
A mesma editora que publica no Brasil os quadrinhos de Ivo Milazzo,
um quadrinista"notoriamente renomado" ─O Aurélio define: "Redundância
de termos, que em certos casos é legítima, por conferir à expressão mais vigor,
ou clareza."... portanto, vale a pena o pleonasmo!
Bem... esse quadrinista italiano ficou conhecido por seus personagens Cults: Ken Parker (baseado em outro personagem, Jeremiah Johnson, que foi representado por Robert RedFord nos tempos dourados dos bang-bangs) e mais recentemente Tiki, O Menino Guerreiro, personagem criado exclusivamente para os fans de quadrinhos brasileiros (veja mais sobre ambos na postagem de quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014).
Bem... esse quadrinista italiano ficou conhecido por seus personagens Cults: Ken Parker (baseado em outro personagem, Jeremiah Johnson, que foi representado por Robert RedFord nos tempos dourados dos bang-bangs) e mais recentemente Tiki, O Menino Guerreiro, personagem criado exclusivamente para os fans de quadrinhos brasileiros (veja mais sobre ambos na postagem de quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014).
Segue agora a entrevista com o professor!
Olá! Meu nome é Juliano, sou estudante do curso de Letras, Tecnologias da Edição, do Cefet-Mg.
Há uma matéria publicada pelo senhor na Revista Língua Portuguesa Conhecimento Prático: você acha possível que haja leitores hábeis de
quadrinhos do mesmo modo que existem aqueles que são super hábeis com
a leitura?
Prof.Dr. Gazy Andraus
É um texto que refiz com base em um trabalho acadêmico
que realizei para uma das disciplinas do meu doutorado, isso lá por 2003.
Porém, ainda tive que resumir e refazer algumas partes (meu artigo original
tinha mais de 70 pg), conseguindo desmembrá-lo em duas partes (aguarde que
a segunda sairá lá por abril, creio). Respondendo à sua pergunta, creio
que qualquer habilidade pode ser mais bem desenvolvida, e se aprendida o quanto
antes, o cérebro se aprimora. Ou seja, uma criança, ao ler quadrinhos, consegue
que sua mente tenha uma desenvoltura mais sistêmica ao ler a narrativa desenhada
nos quadrinhos de uma página: por estas trazerem desenhos (aliados aos textos)
sequenciados, faz com que a visão periférica do leitor esquadrinhe todos os quadrinhos
da página simultaneamente, sejam os que foram lidos e os que serão a seguir ao
foco de sua visão central que esteja mirada num quadrinho no momento presente
de sua leitura. Já ouvi de alguns adultos que nunca leram quadrinhos que têm
dificuldade de lê-los, pois não sabem se deve começar a ler pelos desenhos ou
pelos textos: ou seja, como a mente deles não se “acostumou” com a leitura
“quântica” dos quadrinhos, tal habilidade ficou prejudicada nesse (novo)
desenvolvimento que teria ao ler as páginas duma HQ. Assim, reclamam de certa
forma, que têm dificuldades em ler HQs.
Juliano, pelo seu questionamento, o hábito de leitura
faz com que muitos se tornem super hábeis (vc se referia à
leitura da literatura estritamente escrita?). Então, eu diria que o mesmo pode
haver com leitores de quadrinhos: quanto antes começarem a ler, e os mais
variados quadrinhos de distintos autores e de vários países, devido à riqueza
criativa nas possibilidades dessa linguagem, mais acurados serão ao ler HQs. E
daí eu diria que pode haver leitores de quadrinhos bem mais hábeis (que leem Turma
da Mônica, S-Heróis, europeus, mangás etc) que outros (que leem só
um tipo, por exemplo, Turma da Mônica) e se o leitor lê livros e também
quadrinhos, melhor ainda. Mas essa minha resposta quanto a leitores de HQs mais
hábeis que outros que leem menos HQs, supus com base nas informações
que você me deu, aliados ao que lembro o que pesquisei em minha tese, de que a
mente é neuroplástica e por isso, se configura e se expande com
estímulos, quantos mais, os forem.
Por coincidência, recentemente acessei matéria sobre um
pesquisador norte-americano, o Dr. Neil Cohn, em que trabalhou a questão
cognitiva da leitura de HQs, cujas respostas se assemelham à leitura de uma
frase (ele usou eletroencefalograma, creio, para medições).
Na
minha tese, que foi pioneira, eu não trabalhei essa parte prática científica,
embora tenha lido muito e feito paralelos com trabalhos que usaram os métodos
de tomografia computadorizada para medirem como o cérebro reagia às leituras de
textos ou imagens (o hemisfério direito reagia a desenhos e ideogramas e o
esquerdo mais às escritas fonéticas).
Parece
que Cohn está atualizando minha tese, pois ele está usando métodos de medição
práticas e em breve travarei contato com ele via Dani Marino, uma amiga de
Santos que faz parte do blog Quadro a Quadro - http://quadro-a-quadro.blog.br/ e
que me ajudará na mediação, pois além do interesse dela nas HQs, seu
conhecimento na língua inglesa é muito bom.
Juliano: _Conheço o
Quadro-a-Quadro... rs: sempre dou uma curtida nos quadrinhos que são
postados pelo grupo no Facebook. Sim, me referia à leitura da literatura
(estritamente: a escrita), professor, já que a literatura [escrita] é restrita
apenas àqueles que entendem e decodificam o texto, e o idioma em questão.
Prof.Dr. Gazy Andraus: na
verdade tanto a leitura de textos como a de quadrinhos habilita os leitores a
se tornarem mais inteligentes, e ao se unirem ambas as modalidades, tal
habilidade se eleva. Lembre-se que ao ler textos a mente é mais linear,
racional, e ao ler desenhos, (HQs e ideogramas) a mente é menos linear. Mas nas
duas há processo de cognição e criatividade, sendo que na leitura de desenhos é
o hemisfério cerebral direito que se ativa mais ─ lê desenhos) e na escrita
(fonemas) é o esquerdo, o que responde pela linguagem linear da leitura e
escrita. E advirto também que o hemisfério esquerdo cerebral é atinente à
lógica linear e racionalidade, enquanto que o direito é à não linearidade, e
não racional (não dá nomes nem nada disso, que é tarefa do esquerdo.
Por
isso, ler HQs (e ver artes) produz uma mente mais inteligente no sentido de que
aciona amplamente os dois hemisférios: um para ler textos e outro para
ver/absorver desenhos, criando uma conjunção bem ampla
na neurioplasticidade cerebral. Ah, e também, não quero dizer que
quando o leitor vê só textos a mente direita se desativa, e nem quando ele
"lê" somente desenhos, a esquerda se desative. Nada disso, ambas
sempre funcionam juntas.
O
que quero dizer é que ativações de um lado podem ser maiores que o outro,
dependendo dos impulsos (dos incentivos): se leio textos, meu cérebro esquerdo
aciona mais áreas, embora o direito tb se acione; se leio desenhos,
meu cérebro direito aciona mais áreas, embora o esquerdo também se acione. Como
nos quadrinhos geralmente há textos, pode-se aferir que incentiva mais ainda o
cérebro do leitor! Ou seja, ler HQs estimula uma alta de inteligência,
contrariamente ao que se pensava décadas atrás: que quadrinhos fariam mal
atrapalhando os estudos e a leitura!
Juliano:
Grato mais uma vez, professor!
Abraços!
Grato mais uma vez, professor!
Abraços!
Prof. Dr. Gazy Andraus é Coordenador e prof. do
Curso de Pós-Graduação em Docência no Ensino Superior e criador da disciplina
de HQ e Zine no curso de Tecnólogo em Design Gráfico da FIG-UNIMESP -
Centro Universitário Metropolitano de São Paulo: R. Dr. Sólon Fernandes, 155,
Vl. Rosália, CEP: 07072-080 - Guarulhos/SP. Tel: 11- 3544-0333- rm:
311 - gazy.andraus@fig.br;
Ph.D. in Communication Sciences;
Coordinator and teacher in Postgraduation at FIG-UNIMESP - http://www.fig.br/portal/curso.asp?codcur=7
gazya@yahoo.com.br;
Endereço pessoal (Address): Rua Jacob Emerick, 458, ap.
805, Centro, CEP:11310-070.